50 - Entre pai, filha e amigos

Monte Pira, ao sudoeste de Lilycove, Hoenn; Dia 6 de Janeiro, 13h13.
- E então, May Ketchum? Tem algo a nos dizer? - indagaram Ash, Don e Lyrche em coro, jogando May contra a parede, figuradamente.
- Er... Um de cada vez, por favor... - ela tentou sorrir, mas os rostos que a encaravam não deixaram.
- Tudo bem, pessoal. Papai, em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que estou muito feliz em rever você e que apesar de eu ter fugido do Planalto Índigo, eu te amo muito.
- Eu também, filhinha, eu também. Sendo assim conte-me porque fugiu...
- Tudo bem, papai... Eu simplesmente não aguentava mais! Você queria que eu me tornasse uma grande treinadora, uma mestre Pokémon. Mas não é isso o que eu quero para mim! Você é um Mestre Pokémon, mamãe, líder do Ginásio de Cerulean e da Confederação Interregional de líderes de ginásio e Dawn é, ou pelo menos era, líder de Viridian! Meu destino, papai, são os Torneios! Batalhas são violentas e sujas. Torneios, graciosos e belos... E depois, eu não suportava toda aquela imprensa de Kanto fazendo a cobertura completa da nossa vida! - May gaguejava entre soluços e lágrimas.
- Calma, filha, calma... - Ash tentava tranquilizá-la, abraçando-a - Está tudo bem... Filha, me desculpe se eu exigi muito de você... Me desculpe se a pressão para que você seja treinadora era grande demais, me perdoe... Filha, a vida cobrou muito de mim para que eu fosse o que eu sou hoje e eu não queria o mesmo para você. O que eu podia te dar era o meu apoio... Mas agora vejo que exagerei... Não dei ouvidos a você, me desculpe por isso...
- Papai, você está desculpado. Eu te amo muito...
Don e Lyrche esperaram o momento pai e filha acabar para chamar a atenção de May.
- E nós, May? E isso eu falo pelo Kyo, também. Porque não nos contou?
- Don... Lyrche... Vocês não entendem... Eu não quero fãs... Eu quero amigos.
- Tudo bem, May, tudo bem...
- Hã, pessoal... - disse Ash - podem me contar o que está acontecendo?
- Ah, papai, me perdoe. Esses são Don e Lyrche, meus amigos de Sinnoh - ela esperou o pai cumprimentar os amigos e continuou. Contou tudo a seu pai desde que chegou em Sinnoh. Apresentou a ele seus Pokémon e mostrou-lhe a Fita de Floaroma. Contou-lhe sobre Dawn e Éris e tudo o que havia descoberto sobre a Equipe Galática e a Profecia dos Elementos. E falou-lhe também sobre Kyo. Don e Lyrche também participaram da conversa, acrescentando detalhes e corrigindo erros. Ash ouvia e balançava a cabeça. Quando acabou, May suspirou e se deu conta de que ainda estavam no cemitério frio do interior do Monte Pira.
- Papai... Será que não podemos conversar no hotel? Esse lugar me dá medo...

Hotel Cove Lily, Cidade de Lilycove, Hoenn; Dia 6 de Janeiro, 14h06.
Quando entraram no Hotel Cove Lily, o gordo da televisão caiu da cadeira. Ash Ketchum na sua pobre estalagem? O grupo ignorou-o e entrou no quarto. E então, foi a vez de Ash falar.
- May, eu tenho algo a lhe dizer. Sua irmã... É um caso grave. Eu a havia enviado para procurar por você e convencê-la a voltar para casa. Mas algo aconteceu com ela, eu sempre soube que sua índole tendia ao mal, e ela mudou de vez. Começou a pensar que era um espiã secreta e se auto-denominava de Persian Negro. Lembra do Meowth dela? - ele esperou a filha fazer que sim com a cabeça - Ele evoluiu no dia que você fugiu. Ela chama aquele Persian de Pérola Negra, pode? Em Sinnoh, ela começou a roubar, ou pelo menos tentar roubar Pokémon alheios, mas vocês sempre vinham e frustravam os roubos. E aconteceu que uma vez, quando ela estava na Rota 205, eu perdi totalmente o contato com sua irmã. Não sei o que aconteceu com ela e me desesperei. Sofri todas as noites por ter perdido minhas duas filhas na minha imbecilidade.
- Papai... Eu tenho algo a dizer sobre minha irmã...
- Filha?
- Papai, Persian Negro, quero dizer, Dawn, entrou para a Equipe Galática. Ela que havia pego Darkrai na Ilha da Lua Nova. Ela está nesse plano maligno da Éris...
May consolou o pai e todos ouviram-no desabafar sobre sua vida solitária com sua mulher no Planalto Índigo. Ele havia ido a Slateport bem como ao Monte Pira quando foi noticiado de ataques perigosos da Equipe Galática. Era o seu trabalho, além de ser desafiado por treinadores que almejavam seu título. May estava feliz porque estava com o pai e Ash estava feliz porque estava com a filha. E Don e Lyrche estavam felizes pela amiga. Era um momento de júbilo que duraria pouco. Os amigos procuravam aproveitar ao máximo o presente nítido antes de enfrentar o futuro incerto. Mas então o assunto voltou à jornada de Don, May e Lyrche por Hoenn e May estragou o momento despropositalmente ao perguntar se o pai os ajudaria na empreitada.
- Filha, eu posso ajudar, mas não está ao meu alcance seguir com você. Tenho meus deveres para com o mundo e você sabe disso. E vocês já me contaram o bastante para eu poder entender que essa jornada não é minha. Não posso interferir nela, por enquanto. Não se pode mexer com profecias e se a Profecia dos Elementos disse que um trio procuraria pelas lendas de Hoenn, um trio o fará.
- Mas papai...
- May, eu sinto muito, mas não posso seguir com vocês. Saibam que podem contar comigo. Qualquer coisa, liguem, mas não posso me intrometer onde o futuro já está escrito. E quem vai cuidar da sua mãe? Misty anda muito sozinha e triste ultimamente. Preciso contar a ela que está tudo bem com você.
- Tudo bem, papai. Eu entendo.
- Eu sei que entende, filha. Afinal você é a minha mocinha. Eu já estou indo, mas antes tenho algo a dizer. Tenham cuidado com a Equipe Galática. Eles farão de tudo para conseguir o que querem. Há muitos anos atrás eu lidei com eles. O antigo líder ficou tão obcecado com seu próprio universo, com sua utopia impossível que se perdeu na própria loucura e morreu por causa disso. Essas pessoas são capazes de usar, roubar e matar para atingir seus obetivos. Muito cuidado... - Ash parecia perdido em seus próprios pensamentos - Bem, eu já vou!
- Nós também, papai. Don, Lyrche! Seguiremos nosso caminho. Papai, deseje-me sorte. Nós acordaremos os gigantes e salvaremos o mundo!